segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Refúgio de Campo


Hoje acordei sem espernear com o telemóvel, versão despertador, pois estava envolta numa paz de alma, que me conferia a capacidade de sentir-me leve e afagada sobre mim mesma, abraçada por uma melodia ténue e que permitia que o meu abraço para com a minha almofada soasse quase à sensação de estar a abraçar o mundo sem o abraçar...apenas a contê-lo sobre o meu peito.
Despertei-me calmamente, como se ainda estivesse mergulhada naquele mar de repouso que sempre sinto, quando acordo no meu refúgio de campo.
Foi quase um fim de semana perfeito.
Adoro o amanhecer da serra da Arrábida. Do meu quarto vejo uma enorme encosta esculpida pelas rochas de onde sobressaem árvores de verdes imensos e vegetações protegidas e de onde em jeito tímido se vêem sair das tocas coelhos selvagens de passadas ágeis e fugídias em noites de luas que emanam clariadades cintilantes das estrelas residentes.
Gosto de poder ter a certeza de que sempre que me refugio naquele lugar encontro aquilo que já tenho, mas que ali ganha outra cor, outro cheiro e outro sentir: Paz! É para isso que existem os refúgios para mergulharmos sem sentir a profundidade das idas e sem divagar por estre as estadas dos nadas. Foi isso que fiz no fim de semana. Deixei para trás, em Lisboa, tudo quanto fosse despojos de fragmentos passados de uma semana profissional algo desgastante e enchi-me de inspirações repletas de tranquilidade.
Sentir o cheiro das coisas. O vento forte e rebelde nos cabelos. Sentir o cheiro da relva acabada de aparar e até mesmo dos troncos secos que haveriam de servir de alimento à salamandra amiga que me aqueceu enquanto estive perto. Uma conversa a dois, interessantíssima e totolmente inesperada...nada distante, ainda que ela exista! O almoço e o jantar a quatro. A nostalgia que mora paredes meias com a sala de estar. O olhar de soslaio para a horta e o avivar da memória de que o meu avô João, ainda ali estaria a regar. As galinhas ainda estão a pôr ovos, boas notícias para os olhos que também comem o pão de ló, amarelinho e a fomegar de vontade de ser desflorado.O som dos múltiplos piares resplandescentes de singularidades que os destinguem dos demais. O Sancho a correr por entre os vales. A vontade de permanecer imóvel simplesmente a contemplar. A vontade cumprida de ficar acordada na ronha, a pensar em tudo e em nada, por tempo pouco ou nada determinado, apenas satisfazendo as vontades. Não ter que ir a lado nenhum. Não ter uma fila de trânsito para enfrentar. Ficar apenas a admirar a paisagem da janela do meu quarto...

Sem comentários:

Enviar um comentário