sábado, 3 de abril de 2010

Medos...


Quando pensamos em medos, inevitavelmente atribuímos desde logo uma conotação negativa. Ter medo de isto ou daquilo é muitas vezes uma barreira que nos impossibilita de dar o tal passo para atravessar a fronteira, como se fossemos um foragido em fuga permanente da autoridade que nos quer caçar, ficávamos assim engaiolados e nós claro, sentimos medo de estar presos. Então, medo por medo, optamos pela fuga pois mais vale esse medo do que o outro que nos asfixia e nos sufoca.
Ás vezes olho para as relações afectivas e em muitas delas também estão submersos muitos medos. Há pessoas que têm medo de vivênciar os afectos e as emoções que estão subjacentes ao fim de uma relação, como tal, optam por nem sequer chegar a vivê-la, evitando o medo de um fim que desde logo está anunciado. Há quem dê desculpas para não admitir os seus medos, arranje falsas justificações ou estratégias muito pouco convincentes, e que acham serem capazes de enfiar o barrete, aos outros, com a mesma facilidade com que o fazem consigo próprios.
Neste campo eu tenho medo de nunca vir a ser verdadeiramente amada, por quem eu ame incondicionalmente...até porque tenho medo de nunca conseguir vir a atingir esse estado. Tenho medo de lamentar profundamente que nunca chegue essa luz incondicional que fará alguém segui-la até junto de mim. Mas apesar de ter medo, não tenho medo de viver incondicionalmente a vida emocional, apesar de não gostar da ferida, da ressaca emocional não deixo que o meu medo me impeça de viver a plenitude de um amor. E até porque sei que são essas feridas e essas ressacas que me fazem amadurecer.
Sei que o medo aparentemente pode ser atenuado ou mesmo suprimido se percepcionarmos as coisas de uma forma diferente, isto é, a forma como percepcionamos e interpretamos as coisas em certa parte é o cerne da questão, fazendo desenrolar todo um processo que pode ter este ou aquele caminho. Mas se olhar para os meus medos como desafios e não como ameaças decerto que terei menos medo, e não me venham dizer que não gostam de desafios! Todos nós gostamos de nos superar.
Também há os medos rotulados de superficiais ou banais, mas que não devem ser de todo subestimados, porque de facto causam um enorme transtorno psíquico a quem sofre por eles, como: andar de avião, aranhas, locais fechados, elevadores, alturas, dormir no escuro,conduzir à noite...
Eu tenho alguns medos mais profundos, digamos que aqueles mais superficiais e comuns não tenho, não me considero uma pessoa medrosa, mas não vejo nisso um motivo de orgulho, é simplesmente uma componente minha, mais uma, que eu aceito!
Mas tenho medo de ser só mais uma gota num oceano imenso, mais uma partícula que existe no ar, mais um sopro que sopra assim só de rajada, fugaz, incrivelmente passageiro sem deixar rasto, como que se despenteasse alguém, mas passados uns segundos já estaria de novo com o seu penteado "xpto" e nem sequer se lembrava do que tinha acontecido. Tenho medo de não deixar lembranças, medo de não ter presença, medo que de facto passem bem sem mim e que a minha passagem pelas suas vidas acrescentou muito pouco ou nada. Tenho medo de não ter impacto nos outros, naqueles em quem eu quero realmente ter e medo de ser constantemente subestimada por quem eu mais quero que me enalteça (eu própria)! Tenho medo do vazio, daquele vazio atroz, desprovido de ...nada! Medo de viver e ter pouco para contar aos meus netos. Medo de folhear o meu álbum de vida e ter meia dúzia de fotos, amareladas, incompletas e pouco nítidas. Tenho medo de gritar bem alto as minhas emoções, sentimentos e ouvir apenas e só do outro lado o meu eco. Quero ouvir mais do que um eco. Tenho medo de parar no tempo e ficar sentada constantemente a analisar retratos do meu passado.
Tenho medo que se fartem de mim, que eu esgote a paciência de quem menos quero esgotar. De sentir que alguém sente repulsa de mim. Tenho medo de que não gostem de estar na minha companhia, que não apreciem o meu mundo interior, tenho medo da rejeição. Tenho medo da dor, não da física, mas da dor que causa sofrimento, mágoa e desilusão a alguém que me seja muito especial. Medo que não me perdoem, que não sejam compreensivos comigo, que concluam tudo assim de uma só vez sem ponderar os motivos que me levaram a reagir ou a estar assim. Tenho medo de pessoas intransigentes para comigo, que me anulem, que não me dêem uma segunda hipótese e me "despeçam" da suas vidas!

Enquanto isso e para enfatizar a coisa, vou olhando para a tatuagem que tenho no pé direito e dizendo em voz baixa interior para mim mesma: IO NON HO PAURA!

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